A neurociência é composta por um conjunto de disciplinas científicas focadas no estudo do sistema nervoso. O qual é formado pelo sistema nervoso central e pelo sistema nervoso periférico. Um dos objetivos principais das neurociências é conhecer os mecanismos de regulação e controle das reações nervosas; assim como, o funcionamento cerebral.
A Dra. Ángeles Castro explica a evolução das neurociências ao longo do tempo e sua contribuição para a ciência.
O cérebro e as neurociências
O cérebro como sistema de controle é estudado atualmente pelas neurociências. Sua evolução começou na época dos gregos e continua se desenvolvendo até hoje. O corpo humano é uma trama complexa de redes nervosas controladas pelo cérebro. Todos os dias, de forma contínua, milhões de neurônios permanecem conectados, transmitindo impulsos com informações específicas para cada órgão do corpo.
O cérebro é uma estrutura extremamente complexa e ainda se desconhecem várias propriedades acerca do seu funcionamento. No entanto, a pesquisa realizada pelas neurociências tem permitido aprofundar-se na estrutura, função e importância do sistema nervoso.
Importância das neurociências
Entre os aspectos mais importantes das neurociências está o estudo da capacidade de aprendizagem dos indivíduos, que está diretamente associada à habilidade de sobreviver. Para além da teoria da evolução de Darwin, o cérebro foi usado em maior ou menor grau para aprender: desde a coleta de alimentos, fazer fogo, caçar, estabelecer-se e desenvolver atividades para viver; até chegar às revoluções industriais e ao desenvolvimento da inteligência artificial.
Certamente, tudo isso tem sido possível através da aprendizagem, que está vinculada ao aprimoramento das funções cerebrais e à eficiência das interações neuronais. Esses fatores são estudados minuciosamente pelas neurociências.
Por outro lado, nesta década do século XXI, as neurociências estão passando por uma integração com outros campos do saber. Por exemplo: a embriologia, a fisiologia, a bioquímica, a farmacologia, a psicologia, a neurologia, a bioengenharia, a ciência da computação e a inteligência artificial.
Antecedentes históricos das neurociências
Primeiros contatos com as neurociências
Na Grécia, no século V a.C., Alcmeão de Crotona descreveu os nervos ópticos que localizou durante as dissecações que realizou. Em suas descrições, propôs que o cérebro era o assento do pensamento e das sensações.
Similarmente, Corpus Hipocraticum afirmou: “os homens devem saber que as alegrias, regozijos, penas, aflições e lamentações procedem do cérebro e de nenhum outro lugar. E assim, de forma especial, adquirimos sabedoria e conhecimento, vemos, ouvimos e sabemos o que é absurdo e o que está correto, o que é mal e o que é bem, o que é doce e o que é repugnante… E por esse mesmo órgão nos tornamos loucos e delirantes, e medos e terrores nos acometem… sofremos todas essas coisas por causa do cérebro quando não está saudável… Sou da opinião de que, dessas maneiras, o cérebro exerce o maior poder sobre o homem”.
Por outro lado, Aristóteles compartilhava a ideia de que o centro do intelecto residia no coração, sustentando que a natureza racional do homem se devia à capacidade do cérebro de resfriar o sangue superaquecido do coração.
Mais adiante, Galeno, fundamentado na tese de Hipócrates e na diferença estrutural existente entre o cérebro e o cerebelo, propôs que o cerebelo atuava sobre os músculos. Da mesma forma, que era o receptor das sensações e conservava a memória. Além disso, relacionou os ventrículos cerebrais com as cavidades do coração, estabelecendo que as sensações e os movimentos dependiam do fluxo dos humores para os ventrículos cerebrais ou a partir deles, através dos nervos.
As neurociências no século XVIII
Nesse período, formulou-se que o tecido nervoso desempenhava uma função glandular. Com base na teoria de Galeno, estabeleceu-se que os nervos eram o conduto que transportava os fluidos secretados pelo cérebro e pela medula espinhal até a periferia do organismo humano.
Com relação à anatomia cerebral, Vesálio divulgou vários detalhes. No entanto, o conceito de localização ventricular e das funções cerebrais permaneceu inalterado. Analogamente, a invenção das máquinas hidráulicas contribuiu para reforçar a teoria ventricular cerebral. Essa teoria expõe que: “os líquidos expulsos dos ventrículos bombeiam o organismo, por isso os músculos aumentam de tamanho durante o movimento”.
Correlativamente, René Descartes defendeu a teoria mecanicista da função cerebral para explicar o comportamento animal. No entanto, essa não explicava a complexidade do comportamento humano, pois o indivíduo possui intelecto e alma dada por Deus. Descartes acreditava firmemente que o cérebro controla o comportamento humano em sua parte animal e que as capacidades especiais do homem residem fora, na mente (“l’esprit”).
Com base nessa teoria surgem duas linhas de pensamento que perduram até hoje. Por um lado, a filosofia mecanicista que interpreta o corpo como uma máquina e, como tal, deve ser analisado, incluindo o cérebro. E, por outro lado, a linha mente-corpo, que é compartilhada por alguns neurocientistas.
As neurociências nos séculos XIX e XX
O surgimento das neurociências teve como ponto de partida as descobertas de Santiago Ramón y Cajal, que estudou as proteínas e os neurônios como base da estrutura celular do cérebro. Sobre os neurônios, ele contribuiu que: “o sistema nervoso é formado por células independentes: as neurônios, que se conectam entre si em locais específicos”.
Da mesma forma, Ramón y Cajal criou uma nova teoria neuroanatômica e descreveu a estrutura neuronal. Além disso, estabeleceu os mecanismos que a regem, o desenvolvimento, degeneração e geração do sistema nervoso. Esses elementos constituem os fundamentos das neurociências na atualidade.
O aperfeiçoamento das neurociências seria difícil sem o avanço da neurofisiologia, ciência que surgiu no final do século XVIII com as pesquisas de Galvani sobre a influência da eletricidade na atividade das células que compõem o tecido muscular.
A teoria neuronal foi confirmada por meio de diversos estudos, entre eles o realizado por Ross Harrison, um embriologista que, através de culturas de tecidos, corroborou a teoria e demonstrou que as ramificações dos neurônios, as dendritos e axônios, são estruturas contínuas do corpo neuronal e se desenvolvem a partir dele.
Descobertas mais avançadas
Mais adiante, durante o século XIX, os cientistas Emil Dubois-Reymond, Johannes Müller e Hermann von Helmholtz desenvolveram os fundamentos da eletrofisiologia. Além disso, Helmholtz descobriu a atividade elétrica dos neurônios durante a transmissão de informações entre células.
Na mesma linha de pesquisa, o médico Charles Bell e o fisiologista François Magendie esclareceram a rota de transmissão dos sinais entre o sistema nervoso e a periferia do organismo. Por outro lado, o neurofisiologista Charles Scott confirmou categoricamente a teoria de Ramón y Cajal sobre o contato interneuronal, ao qual denominou sinapse.
No final do século XIX, a farmacologia começou a se desenvolver e ganhou maior interesse quando Claude Bernard, Paul Ehrlich e John Langley demonstraram que os fármacos interagem com receptores celulares específicos. Essa descoberta constitui a base para os estudos atuais sobre a transmissão química sináptica. Posteriormente, por volta de 1960, o bioquímico Hornykiewicz observou que o cérebro de pessoas com doença de Parkinson apresentava uma baixa concentração de dopamina. Dessa forma, estabeleceu-se uma correlação fisiopatológica entre o déficit de um neurotransmissor e a presença de um distúrbio neurológico.
Anos recentes
Em anos recentes, o desenvolvimento das neurociências tem se vinculado com a psicologia. Disciplina que está presente na sociedade desde a época grega, com os mesmos questionamentos sobre a natureza da mente e o comportamento humano.
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Conclusão
Por fim, estabelece-se que as neurociências estão em contínua evolução, de modo que os postulados e a confirmação de diversas hipóteses levaram a descobertas relevantes para compreender a estrutura cerebral. Além disso, o enfoque multidisciplinar que as caracteriza permite investigar diversos aspectos para responder aos questionamentos relacionados ao funcionamento específico do sistema nervoso e de cada um de seus componentes.
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