Você sabe o que é inteligência emocional? Como ela é medida? Como desenvolvê-la? Explicamos isso neste artigo e propomos atividades para desenvolver a inteligência emocional.
Introdução
A inteligência emocional é um conceito fundamental em psicologia que ganha cada vez mais destaque. É considerada uma fonte de felicidade e saúde, pois está muito ligada ao enfrentamento inteligente de diversas situações do dia a dia. Além disso, é imprescindível treiná-la em casos de estresse, ansiedade e outros transtornos mentais.
As emoções influenciam incrivelmente as decisões que tomamos em nossa vida, até mesmo em questões aparentemente racionais. De fato, considera-se que 95% de todas as nossas decisões são influenciadas por nossas emoções (Arrabal Martín, 2018).
À primeira vista pode parecer que essas decisões não são as mais acertadas, no entanto, demonstrou-se que há pessoas com alta inteligência emocional que podem tomar decisões melhores do que outras com alto quociente de inteligência. Observam-se muitos casos de indivíduos bem-sucedidos em que a inteligência emocional é muito superior à intelectual.
Em suma, aprender inteligência emocional é essencial para ter uma vida satisfatória e saudável e estabelecer relacionamentos adequados com quem está ao seu redor.
Como surgiu o conceito de inteligência emocional?
Esse conceito é relativamente novo, tendo início com a teoria das inteligências múltiplas de Gardner. Esse autor foi o primeiro a reformular o conceito de inteligência, rompendo com os esquemas anteriormente estabelecidos. Assim, Gardner defendia que os seres humanos apresentavam sete tipos de inteligência, cada uma praticamente independente das outras. Entre esses tipos, ele descreveu as inteligências intrapessoal e interpessoal, aspectos que antes não eram considerados ao definir inteligência.
Entretanto, a definição de inteligência emocional como tal foi desenvolvida por Salovey e Mayer em 1990, com base no que foi proposto por Gardner.
Inteligência emocional de Daniel Goleman
Apesar de tudo, quem popularizou o conceito foi Daniel Goleman, por meio de seu trabalho Inteligência Emocional, um dos livros mais vendidos atualmente.
Goleman é considerado o psicólogo mais proeminente no revolucionário conceito de inteligência emocional. Suas ideias despertam um interesse crescente em diferentes áreas, pois ele afirma que é possível alcançar uma vida bem-sucedida por meio da inteligência emocional sem dar prioridade ao quociente de inteligência (IQ) “tradicional”. Além disso, ele considera que esse tipo de inteligência é a ferramenta mais poderosa que possuímos na hora de tomar qualquer decisão em nossa vida, superando até mesmo o IQ.
Posteriormente, Daniel Goleman foi ampliando o conceito, focando-se na aplicação da inteligência emocional ao trabalho e à liderança.
Por outro lado, é necessário destacar que, apesar de ser um tema pesquisado e desenvolvido principalmente pela psicologia cognitiva, existem trabalhos que refletem a base biológica da inteligência emocional. Por exemplo, os estudos de LeDoux, que demonstram que a amígdala conecta o chamado “cérebro racional” e o “emocional”. Isso permite que possamos modelar nossas emoções de acordo com o contexto e as demandas do ambiente.
Definição
A definição de inteligência emocional surgiu da necessidade de responder à questão de por que existem pessoas que se adaptam melhor do que outras às diferentes situações do dia a dia. O segredo do sucesso parece residir em uma inteligência emocional desenvolvida, que pode ser definida como a habilidade de captar, compreender e gerenciar informação emocional de si mesmo e dos outros.
Especificamente, a definição que Daniel Goleman nos oferece de inteligência emocional é: “a capacidade de reconhecer, aceitar e canalizar nossas emoções para direcionar nossos comportamentos a objetivos desejados, alcançá-los e compartilhá-los com os outros”.
O que chamamos de inteligência emocional?
Uma inteligência emocional desenvolvida permite distinguir nossas próprias emoções, aceitá-las e conduzi-las da maneira mais adequada para alcançar sucesso em nossa vida. Isso facilita a conquista de nossas metas e o estabelecimento de uma melhor relação consigo mesmo e com os outros.
Como você deve ter percebido, esse tipo de inteligência é composto por várias competências fundamentais:
- O conhecimento das próprias emoções, o que se conhece como autoconhecimento emocional,
- o controle adequado dessas (autorregulação emocional),
- a capacidade de automotivação,
- o reconhecimento das emoções dos outros (empatia),
- o estabelecimento de relacionamentos pessoais positivos (habilidades sociais).
Assim, uma pessoa com elevada inteligência emocional apresentaria essas competências e as utilizaria como ferramenta para alcançar o sucesso em diversos aspectos de sua vida.
Exemplos
- Ser capaz de ouvir ativamente outras pessoas sem interromper e prestando atenção à sua linguagem não verbal.
- Perceber as próprias emoções e como elas são enfrentadas (ou se são evitadas).
- Agir adequadamente diante das reações emocionais dos outros, como choro ou explosão de raiva.
- Controlar as emoções em uma situação em que expressá-las seria socialmente inapropriado ou contraproducente.
- Buscar soluções para os conflitos em que “todos ganhem”.
Como medir a inteligência emocional?
Os profissionais devem medir a inteligência emocional com testes que atendam aos padrões da psicometria. Existem três tipos de testes que a avaliam:
- Testes de autorrelato: são preenchidos pelos próprios sujeitos, devendo responder em que grau concordam ou não com as afirmações descritas. Um exemplo seria o SREIT (Self-Report Emotional Intelligence Test) de Nicola Schutte.
- Avaliações de terceiros: são realizadas com grupos de pessoas que interagem frequentemente entre si (por exemplo, colegas de trabalho). Cada um deve avaliar o nível de inteligência emocional de cada integrante do grupo (avaliação 360 graus). Isso pode implicar uma visão um tanto subjetiva e tendenciosa, pois as pessoas costumam incluir características de personalidade, considerando-as erroneamente como traços de inteligência emocional.
- Testes de habilidades: como o MEIS (Escala Multifatorial de Inteligência Emocional), ou sua versão aprimorada MSCEIT (Mayer-Salovey-Caruso Emotional Intelligence Test). Constitui uma medida mais confiável e baseada em habilidades da inteligência emocional.
Como desenvolver a inteligência emocional?
A inteligência emocional pode ser alcançada por meio da educação emocional. Esse processo de aprendizagem tem como objetivo a aquisição do “conjunto de conhecimentos, capacidades, habilidades e atitudes necessárias para compreender, expressar e regular de forma apropriada os fenômenos emocionais” (Bisquerra e Pérez, 2007).
Para desenvolvê-la, em primeiro lugar, é fundamental trabalhar nossa capacidade de perceber, descrever e expressar nossos estados afetivos e os dos outros. Identificar como nos sentimos serve para direcionar nossos pensamentos e comportamentos com o objetivo de nos motivar, estabelecer metas e alcançar conquistas na vida.
Muitas vezes não somos capazes de definir como nos sentimos, ou rotulamos nossas emoções de forma muito básica (estou “bem” ou “mal”) quando é possível ser mais preciso com um pouco de esforço (sinto-me surpreso, decepcionado, liberado etc.). Os objetivos nesse ponto devem ser: reconhecer quando se está sentindo uma emoção e saber o que esse sentimento significa. Além disso, compreender nossas emoções, distingui-las e entender como elas evoluem.
O nível seguinte seria a regulação emocional, estabelecendo a meta de controlar adequadamente as emoções positivas e negativas.
Posteriormente, pode-se começar a trabalhar a identificação de emoções nos outros. Isso é muito importante para criar relações sociais positivas.
Em sequência, deve-se potencializar a habilidade de compreender os outros, ou seja, a empatia. Para isso, é fundamental não apenas prestar atenção ao que a outra pessoa diz, mas também observar suas expressões não verbais para integrar todas as informações.
Por outro lado, também se treinaria a capacidade de regular as emoções nos outros. Isso é alcançado principalmente por meio da comunicação emocional e da escuta ativa. Trabalhando todos esses aspectos, você irá aos poucos aumentando sua inteligência emocional.
Atividades para desenvolver a inteligência emocional
A seguir, sugerimos atividades para desenvolver a inteligência emocional e para que você comece a aprender hoje mesmo.
Preste atenção às suas emoções
Nessa atividade, você deve escrever detalhadamente as emoções que sentiu nos últimos dias, pouco antes de dormir. Assim, você pode começar pelo dia de ontem e tentar ir o mais longe possível no passado. Além disso, procure associar essas emoções ao que aconteceu com você durante o dia. Tente não confundir seus estados emocionais (triste) com estados físicos (cansado).
Outra variante para se conscientizar de emoções passadas é descrever como você se sentiu em três acontecimentos importantes da sua infância. Tente descrever eventos tanto positivos quanto negativos. Você também pode fazer isso com emoções do passado recente (últimos três anos, por exemplo).
Dê nome às suas emoções
Escrever sobre suas emoções e refletir de onde elas vêm e quais consequências elas têm produz um maior conhecimento da nossa inteligência emocional.
Estabeleça um horário diário para parar e escrever o que você está sentindo naquele momento. Você pode definir um alarme para não esquecer e transformar isso em um hábito. Procure refletir e incluir todas as informações que puder. Para isso, pode ser muito útil usar a roda de emoções de Robert Plutchik.
Uma variante do exercício é selecionar um poema e analisar quais emoções ele lhe provocou ao lê-lo. Não se trata de descrever o que o autor pretendia expressar, mas sim o que ele fez você sentir. Escolha cerca de seis palavras para descrever como você se sentiu, incluindo sensações físicas. Você pode fazer o mesmo com imagens, filmes ou vídeos.
Regule suas emoções
Para estar mais consciente de como você regula suas emoções, você pode escrever o que faz e o que pensa quando se encontra em um estado afetivo específico. Por exemplo, pode começar analisando como você reage ao medo, depois à tristeza e, posteriormente, à raiva. Para facilitar a tarefa, imagine-se nessa situação, visualize-se e preste atenção ao que pensa, ao que faz e se tenta evitar seus sentimentos ou não.
Você pode fazer o mesmo exercício, mas descrevendo sua reação diante de uma situação agradável, por exemplo, algum comentário positivo que lhe fizeram.
Identifique emoções nos outros
A atividade mais comum para trabalhar esse aspecto da inteligência emocional é observar fotografias ou vídeos de diferentes expressões faciais e descreva em detalhes as emoções que elas expressam. São positivas, negativas ou inexpressivas? Como está a posição da boca ou das sobrancelhas? Elas refletem aproximação ou evitação? Considere o contexto!
Escute ativamente
Essa atividade é realizada em grupo, com um moderador. Trata-se de escolher um tema para debater, e recomenda-se começar por temas mais simples e depois avançar para outros mais complexos. Cada pessoa deve dar sua opinião sobre o tema, sendo imprescindível que, antes de falar, ela resuma o que a última pessoa que opinou disse.
O espelho
O espelho é a última das atividades para desenvolver a inteligência emocional que propomos hoje. O exercício deve ser realizado em pares. Um dos dois deve falar com sinceridade e de forma natural sobre uma situação importante em sua vida. A outra pessoa deve escutar ativamente e prestar atenção à linguagem não verbal do companheiro, pois, posteriormente, terá que “imitá-lo” o mais fielmente possível. Deve tentar reproduzir o tom de voz, os gestos, as pausas, etc.
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Inteligência emocional em crianças
A inteligência emocional não é apenas coisa de adultos; de fato, recomenda-se iniciar a educação emocional desde as primeiras etapas escolares. Seria ideal que todas as escolas tivessem um programa de educação emocional no qual participem professores, familiares e alunos.
De qualquer forma, o ambiente onde ela não pode faltar é o lar. Os pais deveriam promover modelos de comportamento emocionalmente inteligentes; para isso, é essencial que eles desenvolvam previamente sua própria inteligência emocional.
Está comprovado que ajudar crianças a desenvolver suas competências emocionais em fases iniciais gera diferenças significativas em sua saúde e satisfação a longo prazo. Além disso, a inteligência emocional ajuda a prevenir dependências, falta de autoestima, violência, impulsividade, delinquência, etc., enquanto promove o desenvolvimento acadêmico e profissional e reduz a ocorrência de estresse e depressão.
Referências do artigo sobre atividades para desenvolver a inteligência emocional
- Arrabal Martín, E. M. (2018). Inteligencia Emocional. Editorial Elearning, SL.
- Bisquerra Alzina, R., & Pérez Escoda, N. (2007). Las competencias emocionales. Educación XXI: revista de la Facultad de Educación (10), 61-82.
- Fernández Berrocal, P. y Ramos Díaz N. (2016). Desarrolla tu inteligencia emocional. Barcelona: Editorial Kairós.
- Gallego Matellán, M. (2015). Educación emocional con y sin TDAH. Madrid: EOS.
- García Navarro, E., López-Cassà, E., Pérez-González, J. C., Lantieri, I., Nambiar, M., Aguilera, P., … & Planells, O. (2012). ¿Cómo educar las emociones? La inteligencia emocional en la infancia y la adolescencia. Esplugues de Llobregat (Barcelona) Hospital Sant Joan de Déu.
- Grewal, D., & Salovey, P. (2006). Inteligencia emocional. Mente y cerebro, 16(1), 10-20.
- Trujillo Flores, M. M., & Rivas Tovar, L. A. (2005). Orígenes, evolución y modelos de inteligencia emocional. Innovar, 15(25), 9-24.
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