O especialista Pablo Arrondo fala neste artigo o estresse sob uma perspectiva fisiológica. Em concreto, explica o sistema de defesa para enfrentar estímulos aversivos, no qual ocorrem respostas fisiológicas que produzem mudanças nos mecanismos neurais.
Hipotálamo, depressão, receptores de glicocorticoides, cortisol, corticosterona, adrenais
Ao longo da evolução, os animais desenvolveram um sistema de defesa para lidar com estímulos aversivos, no qual ocorrem uma série de respostas fisiológicas que produzem mudanças nos mecanismos neurais e endócrinos que permitem ao organismo manter-se em homeostase (McEwen, 2008).
Ocorrem principalmente dois mecanismos fisiológicos:
- Por um lado, o eixo simpático adrenomedular (SAM) responde muito rapidamente aos estressores, pois envolve o sistema nervoso simpático e a medula adrenal. Um exemplo de sua capacidade de resposta é que a taxa cardíaca pode dobrar após o estímulo, preparando o organismo para uma situação ameaçadora. Nessa resposta ao estressor, ativam-se as neurônias do núcleo paraventricular do hipotálamo, do trato solitário e do locus coeruleus do tronco encefálico. As neurônias dessas estruturas liberam adrenalina e noradrenalina (catecolaminas) que alcançam as células dos órgãos ativados pelo sistema simpático, intensificando funções adaptativas de luta ou fuga, por exemplo (Guyton & Hall, 2005).
- Por outro lado, o eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HPA), no qual as neurônias do núcleo paraventricular do hipotálamo possuem axônios que projetam-se para a eminência média, onde se secreta o hormônio liberador de corticotropina (CHR). Este, por sua vez, estimula a secreção pela adenoipófise (hipófise) do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH). A ACTH tem como alvo o córtex das glândulas adrenais (fasciculada e reticular), situadas próximo aos rins, que secretam glicocorticoides em animais (Morén, 2007) e cortisol em humanos (Gómez & Escobar, 2006). Este hormônio é o que fornecerá mais energia aos órgãos do corpo, mantendo adequadamente os níveis de glicose.
Mais tarde, o cortisol produzido no córtex adrenal retroalimenta negativamente o sistema, inibindo o hipotálamo e a hipófise ao ligar-se aos receptores de glicocorticoides presentes no cérebro (McEwen, Weiss, & Schwartz, 1968).
Os glicocorticoides (cortisol ou corticosterona) também se ligam aos receptores de mineralocorticoides (MR), que estão mais presentes nas estruturas límbicas do cérebro do que os GR. Estes últimos estão mais presentes em outras áreas do sistema nervoso central (Chao, Choo & McEwen, 1989; Van Eekelen, Jiang, De Kloet & Bohn, 1988).
Os MR têm muito mais capacidade de ligação com corticosterona ou cortisol, aproximadamente 10 vezes superior à dos GR (Reul & De Kloet, 1987). Por isso, em estado normal, os primeiros já estão ativados e, quando uma grande quantidade de cortisol é liberada, este ativa os GR, que se encarregam de inibir a síntese de CHR e ACTH.
O sistema retorna ao estado basal, preparado para outra situação de estresse. Quando os estímulos estressantes se prolongam no tempo, o sistema de retroalimentação negativa deixa de funcionar adequadamente e pode desencadear um distúrbio físico ou psicológico (Jimenez, Gutierrez, Dominguez & Contreras, 2008).
O estresse e a depressão maior
O estresse e a depressão maior compartilham muitas características, já que as estruturas e vias cerebrais que participam de cada processo são similares (Gold & Chrousos, 1999). Além disso, observou-se que alguns pacientes deprimidos aumentam o tamanho das glândulas adrenais (Montes, 2004), que estão envolvidas na produção de glicocorticoides devido ao estresse, bem como em animais experimentais (Grippo, Francis, Beltz & Johnson, 2005; Rygula, Abumaria, Domenici, Hiemke & Fuchs, 2005).
É importante saber quais fatores relacionados ao estresse são indicadores de vulnerabilidade ao desenvolvimento de doenças. Por exemplo, eventos estressantes na infância podem gerar doenças na fase adulta (McCrory, De Brito & Viding, 2012; Bremme & Vermetten, 2001; Heim & Binder, 2012).
Além disso, a forma de enfrentar cada situação pode ser um fator determinante no desenvolvimento de futuras doenças. Assim, por exemplo, uma estratégia passiva é um fator de risco para depressão maior e uma estratégia ativa é um fator de risco para doenças cardiovasculares (Koolhaas, 2008).
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