A neuropsicologia ocupa um lugar de destaque entre as ciências relacionadas à educação. Segundo Portellano (2014), ela não apenas auxilia no diagnóstico, mas também na reabilitação e potencialização das funções cognitivas e emocionais. Por isso, é muito importante levar em conta o desenvolvimento neuropsicológico e a maturidade das funções executivas em nossos alunos, para influenciar na forma de planejar as metodologias e atividades mais eficazes que contribuam para seu desenvolvimento integral, especialmente em alunos com necessidades educacionais especiais.
Definição e características das funções executivas
São numerosos os autores que investigaram as funções executivas. Luria (1974) foi o primeiro neurologista a falar sobre o sistema, entretanto, a primeira definição é atribuída a Lezak (1982), que afirma que as funções executivas são as capacidades mentais essenciais para realizar uma conduta eficaz, criativa e socialmente aceita.
Mais tarde, Stuss (2010) as definiu como as habilidades controladas pelo córtex pré-frontal. Essas funções permitem elaborar planos e manter metas na memória de trabalho. Também permitem selecionar ações ou comportamentos adequados para direcioná-los ao alcance dessas metas.
Atualmente, as funções executivas são consideradas o conjunto de atividades que se desenvolvem na área pré-frontal. Dessa forma, constrói-se a essência da nossa conduta e de toda a atividade mental, constituindo-se como o computador central do ser humano. Além disso, são responsáveis pela resolução de problemas que exigem raciocínio, abstração ou uso de códigos simbólicos (Portellano et al., 2009).
Níveis de inteligência no estudo das funções executivas
Certamente, autores como Marina (2013) distinguem dois níveis de inteligência no estudo das funções executivas. Primeiro, uma inteligência produtiva ou computacional, considerada a origem da nossa atividade consciente. Em seguida, uma inteligência executiva, que é a responsável por supervisionar, avaliar e direcionar a atenção, como pode ser observado na Figura 1.
Com tudo isso, segundo Goleman (2013) e Marina (2013), surge o conceito de inteligência executiva como aquela que direciona a ação mental e física, aproveitando conhecimentos e emoções, sendo considerada como um indicador adicional para avaliar o desempenho acadêmico e profissional.
Componentes das funções executivas
Claro que existe uma grande variedade de definições. Também encontramos diferentes classificações de seus componentes.
Autocontrole, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva
Segundo Knapp e Bruce (2013), as funções executivas podem ser classificadas em três categorias de habilidades. Primeiro, o autocontrole, que é a habilidade que ajuda os alunos a prestar atenção e controlar a impulsividade, evitando interferências. Em seguida, a memória de trabalho e a flexibilidade cognitiva, que englobam o pensamento criativo e a habilidade de se adaptar a mudanças, ajudando os alunos a canalizar sua imaginação e criatividade para a resolução de problemas. No entanto, para Moraine (2014), seus componentes são a memória, a capacidade de organização e a atenção.
Raciocínio, resolução de problemas e planejamento
Também Baggetta e Alexander (2016) propõem três componentes básicos para o sucesso no desempenho acadêmico e no bem-estar pessoal do aluno. Esses componentes estão diretamente relacionados entre si e permitem desenvolver outras funções complexas como raciocínio, resolução de problemas e planejamento.
Flexibilidade mental, fluidez verbal, regulação atencional, memória operativa ou de trabalho e controle inibitório
Finalmente, e segundo Portellano et al. (2009), uma revisão das funções executivas diretamente relacionadas ao aprendizado e, por conseguinte, ao desempenho acadêmico, inclui os seguintes componentes:
- Flexibilidade mental: pois permite adaptar as respostas a novas situações ou estímulos. Assim, geram-se novos padrões de conduta oferecendo alternativas diversas. Da mesma forma, isso implica uma rápida análise da situação e uma ágil memória de trabalho que permita oferecer respostas alternativas.
- Fluidez verbal: está relacionada à flexibilidade mental, pois é a que permite responder com rapidez e exatidão. Normalmente é medida com testes de fluidez verbal fonológica e semântica.
- Regulação atencional: permite a realização de todos os processos cognitivos. Consequentemente, proporciona ao ser humano melhor atenção seletiva e sustentada e domínio na capacidade de inibir e controlar a conduta (Anderson e Jacobs, 2002).
- Memória operativa ou de trabalho: modalidade da memória de curto prazo que fornece armazenamento temporário da informação. Também permite o aprendizado de novas tarefas.
- Controle inibitório: regula ou adia respostas impulsivas, modelando a conduta e a atenção como catalisador do processamento da informação nos processos cognitivos. Evidentemente, um bom controle inibitório surge quando o aluno consegue manter a atenção na tarefa que está executando sem se distrair.
Desenvolvimento das funções executivas
As funções executivas têm vários períodos sensíveis de maturação, sendo os mais relacionados às etapas de educação infantil e primária, ou seja, compreendidas entre 2 e 5 anos e entre 11 e 12 anos, evoluindo lentamente (Tirapu e Luna, 2008).
Adaptado de Tirapu e Luna (2008)
Bases neuropsicológicas das funções executivas
As funções executivas estão localizadas no lobo frontal, que se divide em duas zonas funcionais. Além disso, é responsável por supervisionar a atividade das áreas cerebrais, programando e regulando todos os processos cognitivos. Essas zonas funcionais são o córtex motor e a área pré-frontal.
Córtex motor
Responsável por desenhar e planejar as atividades motoras voluntárias. Também é encarregada de sequenciar e executar os movimentos intencionais, incluindo os necessários para a linguagem expressiva e a escrita (Figura 2). Além disso, está dividida em três áreas diferentes: área motora primária, córtex pré-motor e área de Broca.
Área pré-frontal
Segundo Portellano et al. (2009), sua principal função é o funcionamento executivo, que permite programar, desenvolver, sequenciar, executar e supervisionar qualquer planejamento ou conduta voltada à conquista de metas, à tomada de decisões e ao controle da atenção. Por essa razão, é a área mais importante no estudo das funções executivas. Além disso, está localizada no lobo frontal do cérebro. Portanto, essa extensa rede de funções executivas encontra-se fundamentalmente no córtex pré-frontal.
Certamente, é a área cerebral mais bem conectada do cérebro, como pode ser visto na Figura 3. Além disso, segundo Diamond e Ling (2016), é a região mais moderna do cérebro, mas também a mais vulnerável, pois o estresse, a tristeza, a solidão ou uma má condição física podem prejudicar seu bom funcionamento.
Da mesma forma, segundo Portellano et al. (2011), a área pré-frontal é a expressão máxima da inteligência humana, pois coordena os processos cognitivos e programa a conduta para alcançar uma tomada de decisão eficaz. Nessa zona distinguem-se três áreas funcionais (Figura 4):
- Área dorsolateral: localiza-se na região externa do lobo frontal, sob o osso frontal. Também é a área do córtex pré-frontal que mais se ativa ao se realizar atividades mentais de maior complexidade (Portellano et al., 2009).
- Área cingulada: localiza-se nas faces internas das áreas pré-frontais, sobre a metade anterior do fascículo cingulado. É também uma área de especial relevância nos processos intencionais que exigem a vontade humana, especialmente na linguagem.
- Área orbitária: localiza-se na base de ambos os lobos frontais, acima das órbitas oculares. Além disso, está muito relacionada aos processos emocionais devido às suas estreitas conexões com o sistema límbico.
Definição e características do processo de leitura
A leitura é fundamental no processo de ensino-aprendizagem e essencial para o desenvolvimento linguístico e intelectual. Claro, ler é um processo complexo para o ser humano e não é uma capacidade homogênea e única, mas sim um conjunto de habilidades que dependem do desenvolvimento das funções executivas.
Em nosso ordenamento educacional, o Real Decreto 126/2014, que estabelece o currículo básico da educação primária, define a leitura e a compreensão leitora como instrumentos que possibilitam a aquisição de conhecimentos das diversas áreas e o desenvolvimento de todas as competências. Da mesma forma, a leitura pode ser realizada por duas vias independentes: a via indireta ou fonológica e a via direta ou léxica.
Bases neuropsicológicas do processo de leitura
O cérebro humano não possui redes neurais pré-estabelecidas para a leitura. Consequentemente, é uma habilidade que requer aprender a associar símbolos gráficos (visão), sons (audição) e significados (memória semântica).
As representações mentais desses três conteúdos ocorrem em redes específicas, de modo que a leitura implicaria a criação de novas conexões entre circuitos dessas redes, nos quais as funções executivas influenciam diretamente. Na Tabela 2, segundo De la Peña (2016), é possível verificar as áreas cerebrais implicadas na leitura e suas funções.
Circuitos funcionais do processo de leitura
Segundo De la Peña (2012), as técnicas de neuroimagem revelaram a existência de três circuitos funcionais envolvidos no processo de leitura. Esses circuitos são: o dorsal, o ventral e o frontal anterior.
Primeiro, o circuito ventral começaria com a entrada da informação pelas áreas visuais primárias e secundárias no lobo occipital. Assim, facilita-se o processamento global das palavras. Em seguida, passaria para o giro angular e de Wernicke, que permitiriam a decodificação, ou seja, a correspondência grafema-fonema e a compreensão. Mais tarde, passaria pelo fascículo arqueado até chegar a Broca, que se encarrega de formular a sequência fonética. Por fim, terminaria nas áreas motoras, que executariam o movimento das praxias bucofonatórias.
Na Figura 6 podemos ver esses circuitos da leitura. Também se observam as áreas cerebrais nas quais foram detectadas anomalias funcionais em indivíduos com dificuldades no processo de leitura. Portanto, recomenda-se uma intervenção personalizada para a maturação das funções executivas (Benitez-Burraco, 2007).
Desempenho acadêmico
Segundo Navarro (2003), o desempenho acadêmico é o sistema que mede as conquistas e a construção de conhecimentos nos estudantes. Estes se criam pela intervenção de didáticas educativas, avaliadas por meio de métodos quantitativos e qualitativos em uma disciplina.
Da mesma forma, Figueroa (2004) expressa sua medida em notas dentro de uma escala convencional de 0 a 10. Embora sua objetividade esteja no fato de avaliar o conhecimento expresso em notas, o desempenho acadêmico é resultado de múltiplos fatores, tanto ambientais quanto pessoais. Como resultado das diferentes etapas do processo educacional e das transformações ocorridas no aluno, esses fatores incidem de forma variável em cada caso.
Relação entre funções executivas, processo de leitura e desempenho acadêmico
Segundo Bernal (2005), o que se aprende é registrado no cérebro e forma a memória, pois a memória é uma função executiva que permite registrar, codificar e consolidar. Além disso, permite reter, armazenar, recuperar e evocar as informações previamente armazenadas, segundo Portellano (2005). Por isso, é a protagonista de todos os processos cognitivos superiores.
Além disso, uma capacidade limitada nos processos de memória acarreta desempenho acadêmico limitado em cálculo aritmético (Alsina, 2001) e em leitura (Baqués e Sáiz, 1999). Da mesma forma, os processos de leitura e, em especial, a compreensão leitora são resultado da codificação e manipulação da informação. Mesmo assim, tudo isso envolve tarefas cognitivas sustentadas pelas funções executivas, em especial a capacidade da memória de trabalho (García-Madruga e Fernández-Corte, 2008). Autores como Melzter e Krishnan (2007) defendem que as funções executivas são indispensáveis para o alcance de metas escolares por serem as coordenadoras dos processos cognitivos básicos e superiores.
Conclusão
A eficácia de uma intervenção neuropsicológica em sala de aula proporciona aos alunos o descobrimento de técnicas e estratégias como as oferecidas pela NeuronUP. Da mesma forma, essas técnicas os ajudam a realizar seus aprendizados de modo mais adequado e a superar as dificuldades dos transtornos do neurodesenvolvimento (TDAH, dislexia, discalculia, TEL, entre outros).
Como resultado, a base fundamental é trabalhar as funções executivas, pois isso pode ser feito em sala de aula sem alterar o andamento normal das aulas. Além disso, contribui de forma lúdica e motivadora para o ambiente da sala e para o desenvolvimento integral dos alunos.
Também vale destacar a importância de os profissionais desenvolverem um espírito de abertura e uma formação contínua. Portanto, isso contribui para seu desenvolvimento profissional de maneira eficaz e para o direito dos alunos de receberem uma educação adequada às suas necessidades.
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Bibliografia
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- Tirapu, J., y Luna, P. (2008). Neuropsicología de las funciones ejecutivas. Manual de neuropsicología. Barcelona: Viguera Editores, SL, 221-256.
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