Laura Videla, neuropsicóloga, responde às dúvidas pendentes sobre sua apresentação acerca da avaliação neuropsicológica da deterioração cognitiva em pessoas com síndrome de Down.
A apresentação foi realizada em março passado no #YoMeQuedoEmCasa aprendendo com #NeuronUPAcademy.
Dúvidas sobre a apresentação: Avaliação neuropsicológica da deterioração cognitiva em pessoas com síndrome de Down
1. A candidata a mestrado em neuropsicologia, Ibeth Sosa, apresenta sua dúvida sobre a apresentação sobre pessoas com síndrome de Down:
Pergunta:
Bom dia, da América Latina, Colômbia. Sou candidata a mestrado em neuropsicologia clínica. Atualmente, estou realizando meu trabalho de pesquisa especificamente com idosos com hipertensão arterial. Em primeiro lugar, queremos conhecer o perfil neuropsicológico desses pacientes quanto ao seu funcionamento cognitivo. Além disso, buscamos verificar se, e em que medida, a hipertensão arterial influencia e se ela pode produzir ou afetar uma deterioração cognitiva leve. Que recomendações você me daria para este trabalho de pesquisa?
Muito obrigada.
Resposta:
Olá, Ibeth, prazer em cumprimentá-la. Sinto muito não poder ajudá-la; infelizmente, a temática da sua tese foge ao meu campo de conhecimento. Minha recomendação é mais em nível metodológico. Aconselho que, antes de começar a trabalhar no tema, faça uma busca bibliográfica muito boa. Da mesma forma, procure manter-se atualizada com tudo o que está publicado em relação à hipertensão arterial e à cognição. Em conclusão, isso lhe servirá para várias coisas. Em primeiro lugar, ajudará a definir seus objetivos e hipóteses e também a saber quais são as futuras linhas de pesquisa em que é preciso trabalhar. Além disso, ajudará a definir seu protocolo de exploração neuropsicológica, pois você verá quais são os testes mais úteis e que têm mostrado maior sensibilidade neste tipo de paciente.
Espero que seja útil. Um abraço e boa sorte!
Laura.
2. Clara Trompeta, neuropsicóloga, pergunta sobre o tratamento farmacológico do último caso exposto na apresentação:
Pergunta:
Primeiro, quero parabenizar a Laura, pois me parece que você expôs muito claramente e achei muito interessante. Sou neuropsicóloga trabalhando em pesquisa com deterioração cognitiva e parkinsonismos. Minha dúvida é sobre o último caso que você apresentou. Embora tenha mais a ver com o tratamento farmacológico do que com neuropsicologia, gostaria de saber: por que se decide administrar um neuroléptico ao paciente para melhorar esse quadro mais relacionado a problemas pré-frontais, uma vez que já foram descartados problemas mnésicos?
Obrigada e parabéns novamente.
Resposta:
Muito obrigada pelo seu comentário, Clara. Fico contente que você tenha achado interessante a apresentação sobre pessoas com síndrome de Down. O que eu queria transmitir com o último caso é que nem toda deterioração cognitiva em pacientes com síndrome de Down se deve a uma doença de Alzheimer. É mais importante realizar um bom diagnóstico e que, além disso, a neuropsicologia pode nos ajudar nesse processo. Dito isso, o caso que apresentei tem histórico de alteração comportamental de longa evolução (com agressividade, comportamentos desafiadores, etc.), mas não apresentei todas as informações para não me estender. Da mesma forma, esse paciente também está sob acompanhamento em psiquiatria e foram testadas muitas estratégias de tratamento distintas.
A quetiapina é um fármaco que tem demonstrado melhorar as alterações comportamentais em pacientes com demência. Também observamos que as pessoas com síndrome de Down (com e sem demência) igualmente respondem bem a esse fármaco. Certamente, todos os fármacos neurolépticos têm efeitos antidopaminérgicos. Por essa razão, um efeito colateral comum pode ser o parkinsonismo. Entretanto, a quetiapina é a que menos parkinsonismo produz; por isso, e por seu bom perfil, é a que mais costumamos utilizar nesses casos para o manejo das alterações comportamentais.
Espero que isso responda à sua pergunta. Um abraço
Laura.
3. Nuria Reyes Alonso expõe suas dúvidas sobre a apresentação acerca de pessoas com síndrome de Down:
Pergunta:
Quais testes você aplica quando o adulto não teve estimulação ao longo de sua vida, não possui leitura, nem escrita, e seu nível de compreensão é muito baixo?
O teste CAMDEX é apenas para deficiência mental leve e moderada. Obrigada.
Resposta:
Olá, Nuria, infelizmente o panorama para explorar a cognição de pacientes com deficiências intelectuais mais graves é complicado. Eu, pessoalmente, tento sempre aplicar o CAMDEX e até o CRT. Entretanto, às vezes eles não servem de nada. Mesmo assim, em outras ocasiões, você se surpreende com as capacidades desses pacientes, mesmo que não tenham uma linguagem muito extensa.
Por um lado, as pontuações que você obterá serão baixas. Mesmo assim, podem ser úteis se você fizer um acompanhamento longitudinal. Outra alternativa é utilizar testes simples e subtestes de baterias que você julgue adaptáveis ao nível desse paciente. Por exemplo: as praxias do CAMCOG, alguns subtestes do Teste de Barcelona, testes infantis ou a compreensão de comandos de Haxby. Claro que isso não servirá a nível de pesquisa, mas sim a nível clínico. Além disso, existe também o SIB – Severe Impairment Battery (Saxton et al., 1993). Esse teste serve para deficiências intelectuais graves com 40 itens e leva cerca de 20 minutos para ser aplicado.
Por outro lado, mais do que a utilidade dos testes neuropsicológicos, recomendo que você faça uma anamnese muito boa com um cuidador próximo ao paciente. Ou seja, alguém que conheça muito bem o paciente e, de preferência, há bastante tempo. Assim, você poderá obter muitas informações e avaliar bem todas as mudanças. Neste caso, você pode usar também a Entrevista CAMDEX-DS e a escala DMR.
Sei também que o TEA estava pendente de validar um teste computadorizado para deficiências intelectuais graves chamado ECDI-SE, mas desconheço em que estágio se encontra esse projeto.
Espero que as informações sejam úteis. Um abraço
Laura.
4. Alicia Márquez pergunta sobre um caso clínico na apresentação sobre pessoas com síndrome de Down:
Pergunta:
Boa tarde, Laura. Em primeiro lugar, muito obrigada e parabéns pela sua apresentação. Gostaria de perguntar: por que, no caso clínico número dois, se decide receitar quetiapina à pessoa, sendo este um antipsicótico, e não havendo nenhum sinal que indique uma possível psicose?
Obrigada desde já.
Resposta:
Muito obrigada pelo seu comentário, Alicia; fico feliz que tenha achado interessante a apresentação sobre pessoas com síndrome de Down.
O que eu queria transmitir com o último caso é que nem toda deterioração cognitiva em pacientes com síndrome de Down se deve a uma doença de Alzheimer. É mais importante realizar um bom diagnóstico. Além disso, a neuropsicologia pode nos ajudar nesse processo. Dito isso, o caso que apresentei tem histórico de alteração comportamental de longa evolução (com agressividade, comportamentos desafiadores, etc.), mas não apresentei todas as informações para não me alongar. Da mesma forma, esse paciente está em acompanhamento com psiquiatria e foram testadas muitas estratégias diferentes de tratamento. Certamente, a quetiapina é um fármaco que tem demonstrado melhorar as alterações comportamentais em pacientes com demência e, de acordo com nossa experiência, vimos que as pessoas com síndrome de Down (com e sem demência) também respondem bem a esse fármaco.
Espero que isso responda à sua pergunta. Um abraço
Laura.
5. Valeria Patti Gelabert apresenta suas dúvidas sobre a reavaliação de pacientes com síndrome de Down:
Pergunta:
Excelente palestra, muito obrigada! Tenho dúvida sobre a reavaliação. Com que frequência ela é aplicada ao paciente?
Resposta:
Olá, Valeria! Obrigada pelo seu comentário.
O plano de saúde que desenvolvemos recomenda um acompanhamento anual, desde que a pessoa esteja saudável. Contudo, quando se diagnostica um paciente com demência, o acompanhamento é adaptado de acordo com cada caso. A recomendação geral é não repetir uma avaliação neuropsicológica se não tiverem se passado, no mínimo, 6 meses. Isso significa que, se o paciente necessitar de um acompanhamento mais próximo, realizamos as consultas apenas com neurologia e reservamos a avaliação neuropsicológica para os 6 e/ou 12 meses.
Pergunta:
Quais são as pontuações para determinar um declínio do tipo demencial no teste CAMCOG-DS?
Resposta:
O problema com essa população é que não existem pontos de corte como na população geral. Tampouco há estudos rigorosos que determinem que queda de teste é realmente significativa. Por essa razão, há a necessidade de realizar avaliações longitudinais e comparar cada pessoa com seu desempenho basal. Para fazer isso, é imprescindível que a avaliação basal do paciente seja em um momento de sua vida em que não haja suspeita de demência nem deterioração cognitiva por outras causas.
Atualmente, temos em revisão pendente de publicação um trabalho relacionado aos pontos de corte do CAMCOG e do CRT que talvez seja útil para você. Além disso, também estamos analisando os dados para determinar quando uma queda de pontuações nos testes é significativa ou não. Esperamos que fiquem disponíveis em breve.
Pergunta:
Trabalha-se, entre as avaliações, com estimulação cognitiva? A avaliação e reavaliação podem ter efeito de aprendizado?
Resposta:
A estrutura da unidade não nos permite realizar intervenções de estimulação cognitiva como parte do nosso trabalho assistencial. Mas sempre recomendamos que as pessoas se mantenham ativas (física e cognitivamente). Assim, quando detectamos um nível baixo de estimulação, acionamos o serviço de assistência social para oferecer recursos a essa pessoa.
Pergunta:
A avaliação e reavaliação podem ter efeito de aprendizado?
Resposta:
Também não há nada publicado nesse sentido que demonstre o efeito de aprendizado nessa população. Porém, acredito que ele possa existir, especialmente nos casos mais leves. O CRT dispõe de 3 versões para poder alternar as pranchas de estímulos de aprendizado, sendo uma boa opção para evitar esse tipo de efeito.
Espero que as informações sejam úteis para você. Achei suas perguntas muito interessantes. Um abraço
Laura.
6. Lucía Elices García expõe suas dúvidas sobre a apresentação sobre pessoas com síndrome de Down:
Pergunta:
Quando vocês começam a observar mudanças cognitivas e comportamentais em pessoas com síndrome de Down que fazem suspeitar de uma possível demência e que, finalmente, vocês acabam corroborando o diagnóstico com uma avaliação neuropsicológica e técnicas de neuroimagem subsequentes, o processo de intervenção com essa pessoa muda a partir de então?
E, por outro lado, costuma-se iniciar também algum tratamento farmacológico específico para as demências?
Obrigada.
Resposta:
Olá, Lucía, obrigada pela sua pergunta. Como você sabe, infelizmente a doença de Alzheimer não tem cura. Atualmente, os tratamentos administrados visam retardar o curso da doença e tratar a sintomatologia comórbida que pode surgir. Quando se faz o diagnóstico de demência em uma pessoa com síndrome de Down, é prescrito o mesmo tratamento que na população geral com IACES (inibidores da acetilcolinesterase). Além disso, ao longo da doença, podem ser adicionados fármacos para atacar sintomas específicos, como alterações do sono ou outras alterações comportamentais.
Nesses casos, o acompanhamento médico costuma ser semestral ou até a cada 3 meses, conforme a necessidade de cada pessoa. É preciso ter cuidado com certos fármacos, como a memantina, pois sabe-se que ela reduz o limiar epiléptico e essa população tem alto risco de desenvolver crises relacionadas à demência. Deixo a referência de um estudo publicado em 2018 sobre o tratamento da demência com IACES em SD na seção de referências.
Além disso, pela unidade, sempre oferecemos uma visita de orientação às famílias que acabam de receber a notícia. Essas visitas são realizadas por uma neuropsicóloga e uma assistente social, que fornecem informações tanto sobre a doença quanto sobre recursos disponíveis. Também é oferecida a participação em grupos de famílias que se encontram na mesma situação, onde podem compartilhar experiências e sentimentos.
Pergunta:
Vocês iniciam com essa pessoa um novo programa de intervenção ou aumentam, por exemplo, o número de sessões de estimulação cognitiva?
Resposta:
A estrutura da unidade não nos permite realizar intervenções de estimulação cognitiva como parte do nosso trabalho assistencial. Porém, sempre recomendamos que as pessoas se mantenham ativas (física e cognitivamente). Dessa forma, quando detectamos um nível baixo de estimulação, ativamos o serviço social para oferecer recursos a essa pessoa.
Minha recomendação é ir adaptando o nível das demandas cognitivas conforme a doença avança. Assim, evita-se a frustração da pessoa e potencializa-se ao máximo as capacidades que ainda estão preservadas. Além disso, procura-se que a intervenção seja sempre o mais ecológica possível.
Espero que as informações sejam úteis.
Laura.
7. Eva María Cubero coloca as seguintes questões sobre a apresentação:
Pergunta:
Os aspectos neurobiológicos que você comentou ocorrem em todas as pessoas com síndrome de Down, independentemente de ser por trissomia, translocação ou mosaicismo?
Resposta:
As alterações neurobiológicas ocorrem em todas as pessoas com síndrome de Down, pois a síndrome é a mesma para as três causas. No entanto, o que pode acontecer é que elas sejam mais ou menos graves. Em geral, os mosaicos estão menos afetados.
Pergunta:
Quais testes são usados para avaliar o grau de deficiência na síndrome de Down? Alguns dos testes que você mencionou para a avaliação neuropsicológica são de acesso livre?
Resposta:
Nós usamos o K-BIT porque é um teste relativamente rápido. Além disso, porque é o que outros grupos estão utilizando a nível europeu. O principal problema desse teste é que a versão espanhola está muito carregada de linguagem verbal, que é precisamente um dos domínios cognitivos mais afetados na síndrome de Down, o que penaliza esses pacientes. No entanto, como também inclui a parte de matrizes, você pode se orientar melhor por essa pontuação. Dependendo do tempo que você tiver para atender cada paciente e do seu nível, você poderia usar outros testes; listo alguns que são recomendados em diferentes manuais:
- Teste de vocabulário em imagens PEABODY (PPVT-III).
- Spanish clinical evaluation of language fundamentals (CELF Preschool 2).
- Clinical evaluation of language fundamentals (CELF-4 Spanish).
- Teste Illinois de aptidões psicolinguísticas (ITPA).
- Bateria de avaliação de Kaufman para crianças (K-ABC).
- Teste breve de inteligência de Kaufman (K-BIT).
- Bateria escala manipulativa internacional de Leiter revisada (LEITER-3).
- Teste de inteligência não verbal-2 (TONI-2).
- Escala não verbal de aptidão intelectual de Wechsler (WNV).
- Matrizes. Teste de inteligência geral.
Você também pode encontrar alguma versão dos testes pela Internet, mas o CAMDEX, por exemplo, é da TEA.
Pergunta:
Em Madrid, há algum centro/unidade Alzheimer-Down que trabalhe como vocês?
Resposta:
Até onde sei, somos a única unidade com esse tipo de protocolos; no entanto, sei que em Madrid há pessoas trabalhando nessa área; você pode consultar, por exemplo, a página da Down Madrid.
Espero que as informações sejam úteis. Um abraço!
Laura.
8. Olga Gelonch Rosinach expõe suas dúvidas sobre a apresentação sobre pessoas com síndrome de Down:
Pergunta:
Olá, parabéns pela fantástica iniciativa do #YoMeQuedoEmCasa aprendendo com #NeuronUPAcademy. A apresentação sobre pessoas com síndrome de Down da Laura Videla foi fantástica. Gostaria de lhe pedir se poderia fornecer a referência do Cued Recall Test para pessoas com deficiência intelectual. Saber se existe uma validação/normalização espanhola desse teste, e também perguntar sobre o Modified Cued Recall Test. Na sua unidade vocês utilizam esse teste modificado? Quais diferenças existem?
Muito obrigada.
Resposta:
Olá, Olga, muito obrigada pelo seu comentário!
O Cued Recall Test de Buschke (1984) é o que se usa na população geral e consiste em 16 estímulos escritos. A versão modificada para deficiência intelectual tem 12 estímulos visuais. Dessa forma, podemos avaliar a memória sem que a leitura e escrita interfiram. Além disso, a dinâmica do teste é praticamente igual: apresenta-se a pista semântica e realizam-se 3 tentativas, primeiro a lembrança livre e depois a lembrança facilitada.
O teste não está validado nem normalizado para a população espanhola. Não temos nenhum teste específico para deficiência intelectual, daí a importância das avaliações longitudinais. Mas ele é muito utilizado e me parece muito útil; sem dúvida, recomendo utilizá-lo para avaliar a deterioração cognitiva nessa população. Caso lhe interesse, atualmente temos em revisão um artigo com pontos de corte orientativos para esse teste; esperamos que o publiquem em breve e que seja útil para todos na prática clínica.
Por fim, deixo-lhe algumas referências sobre o mCRT de Devenny na seção de referências. Essa autora trabalhou bastante no tema. Também deixo um artigo da minha colega Bessy Benejam (2015).
Espero que as informações sejam úteis. Um abraço.
Laura.
9. Sandra Peña Díaz pergunta sobre o protocolo aplicado em pessoas com ausência ou dificuldades de comunicação:
Pergunta:
Boa tarde. Em primeiro lugar, muito obrigada por este webinar que foi muito interessante. No caso da avaliação cognitiva de pessoas com síndrome de Down, que protocolo vocês aplicam com as pessoas que têm ausência ou dificuldades na comunicação? Por exemplo, em casos de mutismo seletivo e em casos de deficiência intelectual muito severa em pessoas com síndrome de Down e autismo.
Muito obrigada
Resposta:
Olá, Sandra
Infelizmente, o panorama para explorar a cognição de pacientes com deficiências intelectuais mais graves é complicado. Eu, pessoalmente, tento sempre aplicar o CAMDEX e até o CRT. Às vezes eles não servem de nada, mas em outras ocasiões você se surpreende com as capacidades comunicativas desses pacientes, mesmo que não tenham uma linguagem muito extensa. Se você conseguir aplicar, as pontuações que obterá serão baixas, mas ainda assim podem ser úteis se você fizer um acompanhamento longitudinal.
Outra alternativa é utilizar testes simples e subtestes de baterias que você julgue adaptáveis ao nível desse paciente. Por exemplo: as praxias do CAMCOG, alguns subtestes do Teste de Barcelona, testes infantis ou a compreensão de comandos de Haxby.
Por outro lado, nesses casos, mais do que a utilidade dos testes neuropsicológicos, recomendo que você realize uma muito boa anamnese com um cuidador próximo ao paciente.
Espero que as informações sejam úteis. Um abraço!
Laura.
10. María García Alaman agradece pela apresentação sobre pessoas com síndrome de Down e expõe suas dúvidas:
Pergunta:
Obrigada por nos oferecer essas pílulas informativas tão interessantes e torná-las tão acessíveis a todos. Tenho várias perguntas para Laura Videla. Na vossa unidade de Alzheimer e síndrome de Down, vocês poderiam avaliar pessoas de fora da vossa comunidade? Está aberto a pessoas de outras comunidades?
Resposta:
Olá, María, obrigada pelo seu comentário.
O plano de saúde coberto pela Generalitat é apenas para pessoas com síndrome de Down maiores de 18 anos da Catalunha. Contudo, podemos avaliar pessoas de fora. De fato, já há usuários de outras comunidades que vêm ao acompanhamento e até alguns da América do Sul, apenas que essas consultas não são cobertas pela Generalitat. Você pode entrar em contato conosco pelo telefone da Unidade Alzheimer-Down (93.553.79.41) e forneceremos mais informações caso precise.
Pergunta:
Você recomenda alguma página, bibliografia sobre este tema? Conhece algum congresso ou jornada sobre esse assunto que vai ocorrer em breve ou que tenha ocorrido e do qual se possa baixar a informação?
Resposta:
Quanto à bibliografia, felizmente, há cada vez mais informação sobre o tema. A nível internacional e de pesquisa, recomendo que visite o site da T21RS. É uma organização científica sem fins lucrativos formada por pesquisadores da área. Eles organizam um congresso a cada dois anos e justamente no ano passado o realizamos em Barcelona. O próximo será em 2021 na Califórnia.
Na Espanha, uma pessoa que possui muita informação de acesso livre na web é o Dr. Flórez da DownCantabria. Ele é um grande especialista e fornece explicações muito claras e rigorosas sobre uma grande variedade de temas. Se o que você precisa é algo mais médico/clínico específico para demência na síndrome de Down, você pode baixar a “Guia oficial de prática clínica em demências” da Sociedade Espanhola de Neurologia de 2018. Nela há um capítulo específico sobre a deficiência intelectual. Além disso, sempre é útil navegar pelo PubMed; você verá que há um interesse crescente no tema e que, nos últimos anos, foram publicados muitos artigos científicos em todo o mundo.
Espero que as informações sejam úteis. Um abraço!
Laura.
11. Betina Martínez, psicóloga da entidade Down Vigo, apresenta suas dúvidas sobre a apresentação sobre pessoas com síndrome de Down:
Pergunta:
Na nossa associação e em coordenação com a Down Galicia aplicamos um protocolo para a detecção precoce do envelhecimento em pessoas com síndrome de Down. No protocolo, iniciamos o estudo longitudinal a partir dos 20 anos. Aplicamos o CAMDEX-DS, o CRT e um teste interno concebido inicialmente para aquelas pessoas às quais nenhuma das duas provas anteriores poderia ser aplicada.
Com relação ao CAMDEX-DS, sempre temos certa controvérsia sobre quando considerar significativo um declínio na pontuação total. Você comentava no webinar que em torno de 2-3 pontos isso deve ser considerado como um dado a levar em conta. Isso depende de outros fatores, como, por exemplo, o QI? Com um declínio de 2-3 pontos, considera-se que devemos aplicar o teste novamente aos 6 meses em todos os casos?
Resposta:
Com relação à queda de 2-3 pontos no CAMCOG, creio que houve algum mal-entendido, uma vez que uma variação tão pequena no teste dificilmente pode ser considerada significativa; de fato, as pontuações do CAMCOG não raramente flutuam ligeiramente ao longo do tempo e costumam ser menos estáveis do que as do CRT. Eu, pessoalmente, não repetiria uma avaliação por um declínio de 2-3 pontos no CAMCOG se não houver mais nada no caso que chame minha atenção. O problema que temos com esses testes no mundo da deficiência intelectual é que não há normatizações nem pontos de corte, daí a necessidade de realizar avaliações longitudinais. Caso lhe interesse, atualmente temos em revisão um artigo com pontos de corte orientativos para esses dois testes; esperamos que o publiquem em breve e que seja útil para todos na prática clínica.
Pergunta:
Existe um protocolo sobre quando encaminhar no estudo longitudinal em que se observa claramente um deterioro?
Resposta:
Infelizmente, não há protocolos específicos para essas pessoas quando são detectadas mudanças cognitivas. Os atrasos nos exames costumam depender de cada hospital e dos profissionais de saúde. No início do nosso projeto, tínhamos o mesmo problema que vocês: o diagnóstico e o tratamento demoravam muito e, em algumas ocasiões, nem eram realizados porque o médico responsável pelo paciente não considerava oportuno realizar exames diagnósticos.
Conseguimos solucionar isso graças à colaboração com o Hospital de Sant Pau e porque, dentro da equipe, temos neurologistas e enfermeiros que podem agilizar alguns procedimentos. Mas creio que vocês estão fazendo um bom trabalho. O único que me ocorre é que, se em algum caso vocês considerarem que há um deterioro claríssimo na visita basal, iniciem todos os trâmites, mesmo que não tenham uma avaliação longitudinal aos 6 meses. É aí que entra em jogo nosso critério clínico, que é tão importante quanto ou mais importante do que os resultados dos testes; nesse caso, vocês teriam que justificar muito bem no relatório.
Pergunta:
Com que frequência deve ser aplicada a Entrevista familiar ou de cuidador? Em Down Vigo, nós a aplicamos no início do estudo longitudinal e a repetimos em caso de suspeita de deterioro ou mudanças significativas. Isso significa que pode haver vários anos entre uma entrevista e outra. Mas entendemos que, ao comparar ambas as entrevistas, é possível observar as mudanças de forma muito notável.
Resposta:
Em geral, nas consultas de memória para a população geral, sempre se inclui um acompanhante na visita. Mas, como mencionei, não há protocolos oficiais para essa patologia na população com síndrome de Down. Nós sempre realizamos uma entrevista com os cuidadores em todas as visitas, pois, na maioria das vezes, eles fornecem informações muito relevantes. Também é verdade que a estrutura das visitas varia muito de um centro para outro. Meu conselho é que, se vocês não podem realizar uma anamnese completa de rotina em cada visita, incluam algumas escalas quantitativas que os familiares possam responder de forma autoadministrada.
Pergunta:
Com relação ao CRT, você comentava que a pista para a lembrança facilitada era dada no início do teste, quando eram memorizadas as figuras. No nosso caso, não estávamos fazendo dessa maneira, mas sim fornecíamos a pista ao longo do teste e apenas para aquelas palavras que não haviam conseguido evocar na lembrança livre.
Existe algum manual ou protocolo? E quando o aplicamos pela primeira vez, qual seria a pontuação de referência a ser considerada? E nas aplicações posteriores, quando se considera uma mudança significativa?
Resposta:
A administração do CRT é exatamente igual à de qualquer outro teste de memória com pistas. Na fase de aprendizagem, você deve dar ao paciente a pista semântica para que ele possa gerar a associação entre a palavra e a categoria. Posteriormente, quando todos os estímulos já foram aprendidos, passa-se à fase de teste e realiza-se o primeiro ensaio: primeiro evocam as palavras de forma livre e sem ajuda. Em seguida, dá-se a pista semântica para aquelas palavras que não foram lembradas. Esse processo se repete nos dois ensaios subsequentes.
Como eu mencionei na primeira pergunta, assim como no CAMCOG, não há pontos de corte nem normativos. Na seção de referências, você tem a referência de um artigo de Devenny que pode ser interessante para você.
Pergunta:
Por fim, não aplicamos o teste de cães e gatos, para contemplar as funções executivas. Mas, sendo visual, rápido e simples, gostaria de saber o mesmo. Há alguma pontuação de referência a partir da qual partir? Quando são consideradas mudanças significativas?
Resposta:
Como mencionei, não há normalizações para a população com deficiência intelectual, de modo que o teste de cães e gatos também não as possui.
Espero que as informações lhe sejam úteis. Um abraço!
Laura.
Saiba mais sobre
NeuronUP
Experimente Gratuitamente
A plataforma que mais de 4.500 profissionais utilizam todos os dias
Referências
- Benejam B, Fortea J, Molina-López R, Videla S (2015). Patterns of Performance on the Modified Cued Recall Test in Spanish Adults With Down Syndrome With and Without Dementia. Am J Intellect Dev Disabil. 2015 Nov;120(6):481-9. doi: 10.1352/1944-7558-120.6.481.
- Devenny, D. A., Zimmerli, E. J., Kittler, P., &Krinsky-McHale, S. J. (2002). Cued recall in early-stage dementia in adults with Down’s syndrome. Journal of Intellectual Disability Research, 46(6), 472–483. http://dx.doi.org/10.1046/j.1365-2788.2002.00417.x
- Devenny, D. A., & Krinsky-McHale, S. J. (2009).The Cued Recall Test: Detection of memory impairment. In V. Prasher (Ed.), Neuropsychological assessments of dementia in Down syndrome and intellectual disabilities (pp. 143-161). London, UK: Springer-Verlag. http://dx.doi.org/10.1007/978-1-84800-249-4_9
- Eady, N., Sheehan, R., Rantell, K., Sinai, A., Bernal, J., Bohnen, I., . . . Strydom, A. (2018). Impact of cholinesterase inhibitors or memantine on survival in adults with Down syndrome and dementia: Clinical cohort study. The British Journal of Psychiatry, 212(3), 155-160. doi:10.1192/bjp.2017.21
Deixe um comentário