O psicólogo Javier Tomás Romero nos fala sobre o córtex cingulado anterior (CCA) e, em específico, o controle executivo e emocional da CCA.
Controle executivo do Córtex Cingulado Anterior
Posner et al. (2007), Posner e Rothbart (2007), e Bush, Luu & Posner (2000) propuseram que o córtex cingulado anterior, e especificamente o giro cingulado anterior, faz parte de uma rede atencional executiva, e que seu papel principal é regular o processamento de informações de outras redes, tanto em modalidades sensoriais quanto emocionais (Öschner & Gross, 2005).
O termo controle cognitivo faz referência a uma série de funções executivas que servem para configurar os sistemas cognitivos com a finalidade de realizar uma tarefa, especialmente em situações que exigem esforço ou um comportamento não rotineiro (Botvinick et al., 2004).
Como ocorre essa configuração? Alguns autores (Botvinick et al., 2004; Posner et al., 2004) sugeriram uma hipótese de monitoramento de conflito, na qual ocorre a detecção de conflito na tarefa. Quando essa detecção acontece, a CCA inicia uma série de reajustes estratégicos no controle cognitivo e no planejamento da resposta, com o objetivo de reduzir o conflito na tentativa seguinte e acertar.
Esses resultados foram refinados por Dosenbach et al. (2008). Para esse grupo, a CCA e, especialmente, a CCA dorsal, parecem ser um nó de processamento, que ganha relevância em relação a estruturas pré-frontais como componente necessário para realizar tarefas cognitivas de alto nível. Também ganha peso, especialmente quando é necessário manter um conjunto cognitivo e detectar que esse conjunto está falhando na execução de uma tarefa.
Em que medida o Córtex Cingulado Anterior media nesse processo?
Botvinick et al. (2004) estabelecem que o monitoramento de conflito supõe que, se a CCA está envolvida em monitorar e avaliar os resultados de uma ação, pode ser que o conflito seja um dos resultados a que a CCA é sensível. Isso pode ocorrer pela detecção de uma redução na recompensa e também pela detecção de um aumento no limiar de esforço, ambas funções que têm sido associadas à CCA.
Portanto, a CCA seria responsável por estabelecer ambos os parâmetros junto com uma estimativa do custo-benefício subjacente à seleção de uma estratégia ou ação. O monitoramento não cuidaria da seleção de uma estratégia cognitiva de resolução ou de um plano de ação, como vimos, mas sim de um mecanismo de controle avaliativo dos resultados que envia informações para outras estruturas e nós do sistema de planejamento. Ou seja, para a rede frontoparietal e o cerebelo, que se encarregam de gerir o erro, estabelecer estratégias de atuação e do aprendizado.
Fan, Hof, Guise, Fossella & Posner (2007), citando Strick e Picard (2001), estabelecem uma divisão funcional durante o processamento de conflito, na qual: o córtex cingulado rostral anterior está envolvido no processamento de conflito e o posterior está envolvido na seleção de resposta e na execução do movimento.
Para esse grupo, as conexões entre essa estrutura e outras são efetivas, ou seja, exercem um controle top-down que redireciona a informação. Quando o conflito é detectado na CCA rostral, essa informação é direcionada para áreas posteriores do córtex cingulado e para regiões do lobo frontal (especialmente o córtex motor suplementar, o córtex pré-motor e o córtex pré-frontal lateral) para a seleção e execução da resposta.
Córtex Cingulado Anterior rostral: um mecanismo de controle emocional?
O córtex cingulado anterior rostral resolve o conflito emocional suprimindo a atividade da amígdala e suas conexões de saída. Isso leva ao enfraquecimento das respostas autonômicas simpáticas. Portanto, estamos falando de um fenômeno emocional top-down.
Para discutir o controle emocional inibitório, devemos fazer uma distinção entre processos conscientes e inconscientes. Etkin et al. (2004) já demonstraram que existem diferenças na atividade da CCA rostral quando os estímulos são conscientes e quando não são.
Durante o processamento inconsciente dos estímulos, os sujeitos diferiram porque não conseguiam identificar a ansiedade relacionada à vigilância com um estímulo ameaçador relacionado ao contexto e, portanto, diferem conforme seu nível individual de ansiedade. Os resultados também mostraram que, uma vez que os sujeitos reconheceram a ameaça potencial, respondiam da mesma forma, independentemente do tipo de terapia recebida. Ou seja, ao terem sucesso, reduziam igualmente sua ansiedade. Em suma, a CCA rostral poderia exercer um controle consciente da emoção inicial inconsciente produzida pela amígdala, delineando duas etapas de processamento emocional.
A implicação para o processamento atencional é evidente e importante. Nas patologias que envolvem o processamento emocional, a hiperativação da amígdala torna os sujeitos mais sensíveis à interferência, com alta distractibilidade para pacientes psiquiátricos. Essa hiperativação, além disso, se correlaciona com uma hipoativação da CCA rostral.
Como esse mecanismo de controle emocional se relaciona com algumas patologias clínicas?
Na depressão, existe uma hiperativação do córtex pré-frontal medial e da CCA rostral durante o processamento autorreferencial de palavras negativas. A atividade da CCA rostral mostra a relação entre a atividade do córtex pré-frontal medial e a gravidade dos sintomas. De fato, a relação entre o córtex pré-frontal medial, a amígdala e a CCA rostral apresentava uma correlação entre o processamento autorreferencial e o processamento de informações emocionais negativas (Yoshimura et al., 2009).
No transtorno de estresse pós-traumático, observa-se uma hipoatividade da CCA rostral durante a evocação do trauma e sua re-experimentação. Além disso, a gravidade dos sintomas está fortemente correlacionada com a hipoatividade da CCA rostral. Da mesma forma, em sujeitos com ansiedade, ocorre falha na supressão da atividade da amígdala. Ademais, durante uma situação percebida como fortemente ameaçadora, a ansiedade se correlaciona negativamente com a atividade da CCA rostral e positivamente com a CCA dorsal. Certamente, isso poderia explicar o estado de hipervigilância.
As mudanças na atividade dependeriam do grau de ameaça percebida. E essa ameaça percebida varia conforme a antecipação dos estímulos aversivos. O fato é que Straube et al. (2008) também demonstram em seu estudo que existe uma variação na atividade do córtex cingulado que depende desse grau de ameaça percebido.
Contínuo atenção-emoção
É nesses fenômenos que podemos ver como atenção e emoção se tornam um único fenômeno, descartando dicotomias tradicionais que aos poucos são abandonadas. Existe um contínuo atenção-emoção e diferentes graus de controle entre ambos. A emoção intensa monopoliza os recursos atencionais até a hipervigilância ou até a absoluta distractibilidade em relação a estímulos contextuais relevantes. Portanto, as emoções podem modular a atenção escolhendo um tipo de foco atencional em detrimento de outro, como, por exemplo, sinais interoceptivos em sujeitos com hipocondria.
Da mesma forma, os recursos cognitivos podem exercer controle sobre as emoções, permitindo seu controle ou reformulação (como ocorre em muitas terapias), para o qual devem recrutar recursos atencionais focados nisso. Por exemplo, na verificação de argumentos absurdos durante a depressão ou na reformulação cognitiva das fobias.
Saiba mais sobre
NeuronUP
Experimente Gratuitamente
A plataforma que mais de 4.500 profissionais utilizam todos os dias
Conclusão
Em definitiva, o córtex cingulado é uma estrutura “de passagem”. Essa estrutura permite verificar nossa evolução como espécie dentro do nosso próprio cérebro. Essa evolução se evidencia na passagem das estruturas que nos igualam aos demais animais para as zonas cognitivas superiores e em como umas estruturas influenciam as outras.
Bibliografia
- Cognitive and emotional influences in anterior cingulate cortex. G Bush, P Luu, MI Posner. 2000 Jun;4(6):215-222. doi: 10.1016/s1364-6613(00)01483-2.
- A dual-networks architecture of top-down control. Nico U F Dosenbach 1, Damien A Fair, Alexander L Cohen, Bradley L Schlaggar, Steven E Petersen. 2008 Mar;12(3):99-105. doi: 10.1016/j.tics.2008.01.001. Epub 2008 Feb 11.
- Imaging the premotor areas. N Picard 1, P L Strick. 2001 Dec;11(6):663-72. doi: 10.1016/s0959-4388(01)00266-5.
- Conflict monitoring and anterior cingulate cortex: an update. Matthew M Botvinick 1, Jonathan D Cohen, Cameron S Carter. 2004 Dec;8(12):539-46. doi: 10.1016/j.tics.2004.10.003.
Deixe um comentário