A neuropsicóloga Ana Laura Utrilla Lack revela neste artigo a importância da psicoeducação para os familiares de pessoas afetadas pela demência frontotemporal.
Conviver e cuidar de uma pessoa com demência pode ser um grande desafio. A psicoeducação ajuda a família a entender o que está acontecendo e a como lidar com a situação. No caso da demência frontotemporal, os sintomas mais destacados estão relacionados a mudanças no comportamento. Além disso, o paciente não tem plena consciência das alterações em seu comportamento, o que torna a interação com a família ainda mais difícil.
O que é a demência frontotemporal?
O primeiro passo da psicoeducação é saber o que é a demência frontotemporal, variante comportamental. Este é um tipo de demência que ocorre quando há danos no lobo frontal.
O lóbulo frontal tem uma participação fundamental na regulação do comportamento, na atenção, na inibição e na tomada de decisões. Por isso, quando essa área apresenta uma alteração, os sintomas são principalmente comportamentais.
Existem diferentes tipos de demência frontotemporal. Uma delas é a variante comportamental, que se manifesta quando a lesão ocorre especificamente na córtex orbitofrontal bilateral.
Como um paciente com demência frontotemporal é visto?
Como foi mencionado, um paciente com demência frontotemporal apresenta principalmente mudanças em seu comportamento e personalidade. Entre essas mudanças, podem ser observados as seguintes:
- Extrema apatia, falta de emotividade e perda de interesse por coisas que anteriormente gostava,
- Descuido da higiene e aparência pessoal. Os pacientes podem resistir a se banhar e cuidar da sua aparência. Mesmo quando incentivados, podendo mostrar raiva e descontentamento,
- Comportamentos inadequados, como ser muito diretos nas conversas ou falar sobre temas inapropriados em locais inadequados,
- Condutas desinibidas em relação a comportamentos sexuais ou na expressão de emoções,
- Comentários ou comportamentos obscenos,
- Labilidade emocional, ou seja, podem mudar facilmente de emoção sem um desencadeador aparente,
- Irritabilidade. Podem ser pouco tolerantes e explodir com facilidade,
- Demonstrações inadequadas das emoções. Podem expressar-se de maneira desproporcional em situações, seja estando muito felizes, irritados ou tristes.
- Impulsividade, que pode se manifestar em consumo de álcool ou substâncias, gastos excessivos ou acidentes de trânsito,
- Mudanças no apetite. A tendência é comer mais do que costumavam, com preferência por alimentos doces ou não saudáveis. Além disso, a quantidade e os horários das refeições podem ser alterados,
- Comportamentos motores repetitivos ou estereotipados. Movimentos sem um objetivo claro que a pessoa continua fazendo sem conseguir parar. Alguns desses comportamentos podem incluir balançar-se, mover a boca como se estivesse comendo ou mascando chiclete, ou bater palmas, entre outros,
- Outro sintoma importante é a falta de consciência da doença.
Todos os sintomas ou comportamentos mencionados podem ser notórios para familiares e amigos, que podem tentar se aproximar do paciente e corrigir as condutas observadas. No entanto, o paciente pode mostrar uma resistência significativa a isso e até ficar irritado ou desconfortável diante do que vê como um ataque. Isso ocorre porque ele não é capaz de perceber suas próprias condutas e como elas mudaram.
Quem participa do diagnóstico da demência frontotemporal?
O diagnóstico é uma parte fundamental para uma intervenção adequada. Por isso, é importante que, uma vez que os familiares observem mudanças significativas no comportamento do paciente, procurem um especialista adequado.
Para o diagnóstico desse tipo de transtornos, podem participar diferentes especialistas. Entre eles, estão os seguintes:
- Neuropsicólogo: O neuropsicólogo é responsável pela aplicação de testes que avaliam as funções executivas, associadas à área frontal cortical, que, como já mencionado, é a principal área afetada nesta demência. Também é importante avaliar o funcionamento das demais funções cognitivas para realizar um diagnóstico diferencial adequado.
- Geriatra: O papel do geriatra, sendo um médico internista especializado em adultos mais velhos, é avaliar não apenas a conduta e a cognição, mas o paciente de forma integral, ou seja, seu estado de saúde e os medicamentos que está tomando. Dessa forma, é possível entender o que está causando a alteração da área frontal cortical. O geriatra também se apoia em ferramentas de neuroimagem, que permitem conhecer o estado do cérebro.
- Psiquiatra: Às vezes, por se tratar de mudanças comportamentais e de personalidade, o primeiro contato é com o psiquiatra. Este profissional realiza uma avaliação para entender o estado emocional e cognitivo do paciente, o que lhe permite identificar os sintomas apresentados e determinar se se trata de uma demência frontotemporal. Assim como o geriatra, o psiquiatra pode utilizar técnicas de neuroimagem para corroborar seu diagnóstico.
As três áreas de especialidade mencionadas podem realizar o diagnóstico da demência frontotemporal. Às vezes, para chegar a um diagnóstico mais preciso, elas trabalham de forma colaborativa, cada uma contribuindo com diferentes estratégias para a intervenção.
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Já foi feito o diagnóstico… O que vem a seguir?
Uma vez confirmado o diagnóstico de demência frontotemporal, é importante iniciar a intervenção.
Normalmente, em uma intervenção, pensa-se apenas no paciente, mas o ideal é que inclua também os familiares.
Quanto ao trabalho com o paciente, assim como no diagnóstico, diferentes especialistas devem intervir:
- Neuropsicólogo: nesses casos, o neuropsicólogo intervém com um programa especializado focado nas necessidades identificadas no diagnóstico inicial, oferecendo ferramentas para melhorar o autocontrole, o manejo dos sintomas, entre outros.
- Tratamento médico, seja por parte da geriatria ou psiquiatria: a abordagem médica inclui o uso de medicamentos para o manejo das condutas problemáticas apresentadas pelo paciente.
Como já dissemos, o trabalho com os familiares também é uma parte importante, e consiste principalmente na psicoeducação.
A psicoeducação com os familiares tem como objetivo fornecer informações sobre a patologia, para que eles saibam do que se trata, o que podem esperar, qual será sua progressão, assim como o que podem fazer para lidar melhor com a situação. Isso tem um impacto positivo significativo tanto no paciente quanto no cuidador, pois ajuda a evitar o síndrome de desgaste do cuidador.
Parte da psicoeducação consiste em que a família compreenda do que se trata a demência. Mas também é muito importante entender o porquê dos comportamentos do paciente.
Quando temos um paciente que fisicamente não apresenta nenhum sintoma, ou seja, caminha bem, fala bem, não tem problemas de mobilidade, etc., os familiares têm dificuldade em entender que os comportamentos observados são causados por algum dano orgânico e não são condutas que o paciente consegue identificar e regular por si só.
Às vezes, uma das maiores dificuldades observadas está nas relações familiares, já que, ao agir de maneira impulsiva ou desinibida, os familiares podem se sentir ofendidos pelo paciente, gerando distância entre eles.
Algumas recomendações para os familiares de pacientes com demência frontotemporal são:
- Observar cuidadosamente o paciente, identificando quais situações desencadeiam os sintomas comportamentais e mantendo um registro delas para poder evitá-las em outros momentos,
- Eliminar sinais do ambiente que possam desencadear uma crise. Por exemplo, se não se permite que o paciente dirija, não deixar as chaves do carro à mão,
- Manter um ambiente tranquilo,
- Estabelecer rotinas. Acompanhar e apoiar o paciente no início e, à medida que ele automatiza as rotinas, permitir que as faça com mais independência,
- Simplificar tarefas do dia a dia para que ele possa continuar fazendo por si mesmo,
- Quando comportamentos prejudiciais se apresentarem, distrair o paciente e redirecionar sua atenção para outro estímulo que possa ser de seu interesse,
- Caso o paciente entre em crise, manter a calma, falar com ele tranquilamente e esperar que a situação passe, sem apressá-lo ou forçá-lo, pois isso pode agravar ainda mais a situação. Se perceber que ele está prestes a perder a calma, é melhor pedir ajuda a alguém.
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Conclusão
Ao trabalhar com demência, neste caso demência frontotemporal, é importante não só abordar o paciente, mas também trabalhar com a família. Trabalhar com a família consiste em proporcionar psicoeducação ou fornecer informações importantes para lidar com o paciente. Conhecer as ferramentas que podem ser utilizadas para comunicar de forma assertiva ou como regular os comportamentos conflituosos do paciente e desta forma melhorar a estabilidade no campo do paciente, bem como do familiar.
Ao trabalhar com demência, neste caso a demência frontotemporal, é importante não só a abordagem com o paciente, mas também o trabalho com a família. O trabalho com a família consiste em proporcionar psicoeducação ou fornecer informações importantes para lidar com o paciente. Conhecer as ferramentas que podem utilizar para comunicar de forma assertiva ou como regular os comportamentos conflituosos do paciente e desta forma melhorar não só a estabilidade do paciente, mas também a da família.
Bibliografía
- Iragorri Cucalón, Ángela María. (2007). Demencia frontotemporal. Revista Colombiana de Psiquiatría, 36(Suppl. 1), 139-156.
- Lillo, P. (2016) Demencia frontotemporal, como ha resurgido el diagnóstico. Revista médica clínica Las Condes. 309-318 (mayo 2016)
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